sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Françoise Barré-Sinoussi, uma combatente incansável contra a Aids

A primeira francesa a receber um Prêmio Nobel de medicina é uma pasteuriana na alma e uma combatente incansável contra a AIDS. Nascida em 30 de julho de 1947, um doutorado de ciências no bolso, Françoise Barré-Sinoussi ingressou no Instituto Pasteur de Paris em 1977. Na companhia de Jean-Claude Chermann, com quem havia trabalhado sobre os retrovírus animais, integrou o departamento de virologia criado cinco anos antes por Luc Montagnier.
A sequência é conhecida: Montagnier coloca em cultura a amostra enviada pela equipe do Hospital Claude-Bernard, de Paris. Françoise Barré-Sinoussi acampa atrás de seu microscópio. Inspecionando regularmente as culturas, ela descobre o vírus da imunodeficiência humana (HIV) em 1983. Toda sua carreira é então consagrada à luta contra o HIV, e não somente no domínio da investigação fundamental. “Ela tem coragem, tenacidade e um grande senso ético”, sublinha Alice Dautry, diretora geral do Instituto Pasteur, “Françoise luta há vinte e cinco anos, no mundo inteiro, junto aos governantes e às instituições, mas também sobre o terreno, juntos aos pacientes, muitas vezes nas piores condições.”

É uma grande dama da investigação, que nós adoramos e que nos aconselha”, comenta Jean-François Delfraissy, diretor geral da Agência Nacional de Investigação sobre a AIDS (Agence Nationale de Recherche sur le SIDA – ANRS), “Ela possui enormes qualidades humanas e éticas. É uma construtora, mas não do gênero ‘béni-oui-oui’*.” Responsável do sítio “Asie” da ANRS, Françoise Barré-Sinoussi encontrava-se em missão no Camboja no momento do anúncio do Prêmio Nobel. “Eu caí das nuvens”, confiou ela, “eu sabia que meus colegas esperavam que o Nobel nos fosse atribuído, mas eu não tinha mais em mente o período em que o prêmio é anunciado”. Para ela, esse prêmio recompensa toda a equipe, que “soube mobilizar-se quando necessário”. Ela congratula-se também com o reconhecimento demonstrado à investigação européia, e à francesa em especial. Ela espera, sobretudo, que o Nobel vá “reavivar a atenção a respeito da AIDS e atrair jovens investigadores”. “Nós precisamos de novas idéias, principalmente no momento em que devemos voltar à investigação fundamental para dar impulso na busca por uma vacina”, afirma ela.

Presidente do Conselho Científico da ANRS, diretora de pesquisa “excepcional” pelo INSERM (Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale), dirigindo sempre a unidade “Biologia dos retrovírus” no Instituto Pasteur, Françoise Barré-Sinoussi também faz parte do comitê de vigilância científica do Instituto Pasteur, o comitê de ética desta instituição.

Desfrutando de um reconhecimento internacional no campo científico, Françoise Barré-Sinoussi considera que os esforços realizados, nomeadamente através do Fundo Mundial contra a Aids, a tuberculose e a malária, “devem servir para desenvolver os sistemas de cuidados e melhorar a saúde pública no que diz respeito a todas as patologias que afetam os países em desenvolvimento”. Uma abordagem que conjuga a pesquisa fundamental e a luta contra as infecções que não teria negado Pasteur.

por Paul Benkimoun - Le Monde 08.10.2008


* béni-oui-oui: pessoa sem espírito crítico, que diz sim a tudo.
(Tradução: Clarisse Lourenço. Artigo original em francês no endereço: www.lemonde.fr/planete/article/2008/10/07/francoise-barre-sinoussi-une-combattante-intraitable-contre-le-sida_1104046_3244.html)