Essa semana, a Faculdade Arthur Sá Earp Neto
(FMP/Fase) cedeu espaço para a realização das duas Pré-conferências Municipais
de Saúde. No dia 19 de março, no prédio novo do Ambulatório Escola, em
Cascatinha, foi debatido o tema “Acesso e cuidado em saúde mental: impacto da
nova política” e, no dia 20, no auditório do campus da faculdade, “Trabalho em
saúde e a consolidação de direitos”.
Os dois temas escolhidos trazem o debate, a partir
das novas normativas do Ministério da Saúde, para a realidade do município e
como elas vão refletir no dia a dia os cuidados oferecidos à população em
Petrópolis.
“Como a Conferência Municipal de Saúde deve seguir
o cronograma e os temas da Conferência Nacional, a comissão organizadora da
Conferência Municipal de Saúde colocou como temas das pré-conferências que são
preparatórias, as áreas que são menos centrais, que estão fora dos eixos
principais, porque também são assuntos que precisam ser debatidos”, frisa Julia
Morelli Rosas, médica de Família e Comunidade da Unidade de Saúde do Boa Vista,
professora da FMP/Fase e membro da Comissão Organizadora da 15ª Conferência
Municipal de Saúde de Petrópolis.
Esse ano será marcado na área da saúde pela
realização das conferências, grande espaço de participação social. O tema
central remete à 8ª Conferência Nacional de Saúde, Democracia e Saúde, que
lançou as bases do SUS (Sistema Único de Saúde do Brasil), em 1988.
“A gente precisa participar desses debates,
influenciar nas discussões e também ser exemplo a partir desse serviço que
implementamos. E, além disso, como o nosso papel de formação em várias áreas da
saúde é sabendo que o mercado de trabalho no Brasil é bastante voltado para o
sistema público, a faculdade como um todo tem a função social de formar para
atender à essa população brasileira, que em sua maioria está no setor público.
A saúde da família faz parte da rede de saúde mental também, é um dos pontos
dessa rede, então não tem como a gente pensar dissociado. A FMP/Fase está indo
num caminho bastante interessante que é da integração, da ida dos psiquiatras aos
postos de saúde, na formação da nossa graduação, na interação da saúde mental
junto com a atenção primária, já no mesmo espaço”, conclui a médica, Julia
Morelli Rosas.
Na atual situação política nacional de retomada do
projeto original do SUS, a ideia é que nas pré-conferências sejam realizados debates
que visem discutir a consolidação de princípios do SUS e a saúde como um
direito a cada indivíduo da sociedade. Uma estratégia nova, que veio com a
reforma do currículo do curso de Medicina, alerta também para a importância do
trabalho realizado através do Nasf (Núcleo Ampliado de Saúde da Família).
“Inicialmente, a lógica do Nasf é exatamente a de
saúde pública que vem se sofisticando nos últimos anos, que é atenção e
território. Eu entro como um consultor nesse trabalho, não do paciente, mas do
profissional de saúde que atende às demandas nas unidades e identifica a necessidade,
a gente discute o caso, atende o paciente juntos e, a partir dali, são
debatidas as propostas terapêuticas, para que a pessoa seja tratada pelo médico
sem precisar sair da sua área de convivência”, explica Dimitri Abramov, psiquiatra
e professor de Psiquiatria da FMP/Fase.
A participação da sociedade tanto nas
pré-conferências quanto na Conferência Municipal de Saúde é um importante
elemento para a consolidação de políticas públicas que atendam às necessidades
da população. No município, a FMP/Fase realiza um trabalho diferenciado de
atendimento às pessoas que sofrem com algum tipo de transtorno mental. Em suas
unidades próprias de saúde são promovidos atendimentos realizados por uma equipe
multidisciplinar, que faz o acompanhamento dos pacientes ao longo do
tratamento. Cada caso é analisado pela equipe, que também faz visitas
domiciliares para atendimento aos pacientes que necessitam dessa atenção mais
próxima dos profissionais de saúde.
“Nesse momento de
contrarreforma em que vivemos, ter uma população organizada é essencial, pois
efetivamente dessa maneira é que se consegue transformar a realidade no setor
de saúde pública”, destaca Ana Paula Guljor, psiquiatra, membro da Associação Brasileira
de Saúde Mental e pesquisadora da Fiocruz.