Rovena Paranhos (*)
Competir, por si só, pressupõe ganhadores e
perdedores. Essa simples evidência parece, hoje, coisa de um passado distante,
já que, na sociedade contemporânea, a competição se estabeleceu como modo de
vida em tudo e para todos. Nesse sentido, perder e ganhar — situações que
naturalmente se alternam — não mais se configuram como naturais. Ao contrário,
ganhar, e ganhar sempre, passou a ser a obrigatória lógica atual. Mas não seria
essa uma lógica ilógica? Um paradoxo? Um contrassenso? Uma irrealidade? Uma lógica
perversa? Parece que sim. Dita lógica é perversa.
Perversa porque naturaliza o que não é
natural; em qualquer competição há ganhadores e perdedores. Perversa porque, ao
naturalizar o ato de ganhar sempre, não admite a derrota. Perversa porque, ao
não admitir a derrota, não prepara quem quer que seja para ela; mesmo sendo uma
condição inevitável para qualquer um a qualquer tempo. Perversa porque, ao não
preparar quem quer que seja para inevitáveis derrotas, não permite que se
aprenda a lidar com a frustração. Perversa porque ao não possibilitar a
vivência natural da frustração, finda por pavimentar o caminho para a
desistência e para o adoecimento.
Hoje, muito mais estamos sendo confrontados
com notícias de desportistas que desistem de suas trajetórias, com desportistas
que são pegos em exames de doping, com desportistas que fazem uso de
substâncias psicoativas. Tudo isso leva a crer que a competição no esporte está
perdendo sua finalidade última, qual seja a de ensinar a todos — sem exceção —
que a vida é feita de sucessos e de fracassos, de vitórias e de derrotas. E que
somente ao experimentar o fracasso de uma derrota, poderemos viver a plenitude
do sucesso de uma vitória. O ganho de se permitir a vivência dessas
experiências, sem sombra de dúvida, é o de pavimentar o caminho para uma vida
física, mental e socialmente saudável.
(*) Coordenadora do Curso de Psicologia
da FMP/Fase.