quarta-feira, 9 de maio de 2018

Saúde para driblar a violência

Ricardo Tammela
Coordenador de Projetos e Extensão da FMP/Fase
 
As notícias diárias sobre a violência drenam nossas energias, enquanto são ceifadas vidas, nas cidades e no campo. Muito se fala em cortar o mal pela raiz e em intervenções pelas armas, como se o problemão, bem lá no fundo, fosse esse e não as desigualdades sociais que afundam o Brasil. Sim, sem paz para todos, a saúde de cada um está comprometida e a violência terá espaço fértil para crescer, espalhando ódio, indiferença e preconceito, aumentando essas desigualdades sociais, raciais e de gênero, nos abismos abertos nesses Brasis, com tantas violações de direitos e exclusão.

Esses pensamentos ocuparam as atenções dos que estavam no seminário preparatório do 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, “O SUS diante das violências: vivências, resistências e propostas”, realizado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), na Paraíba, no final de março. Participamos do início da criação da “Carta de João Pessoa <
https://www.abrasco.org.br/site/eventos/congresso-brasileiro-de-saude-coletiva/carta-de-joao-pessoa-populacao-brasileira/33868/>”, documento que reúne as propostas debatidas para o enfrentamento da violência e a defesa do SUS, e vimos a importância de um esforço conjunto. O diálogo renova os ânimos de quem busca uma saída. Ou melhor, as saídas para os problemas.

Se mísseis e baterias antiaéreas iluminando a madrugada numa Síria distante daqui parecem falar de uma batalha longínqua, nossa violência diária está na porta de casa. Profissionais de saúde tiveram que aprender na marra como tratar vítimas de guerra, perfuradas por balas com armamentos pesados. Não só nos hospitais como nas unidades de saúde da família, menos preparadas ainda para a sangrenta realidade.

É preciso atualizar a formação dos profissionais e, ao mesmo tempo, cuidar da sociedade doente, ferida por tantos problemas, no corpo e na alma. Como também é fundamental refletir e dialogar com os diferentes, erguendo pontes e não muros e cercas que escondem a realidade. Nós, militantes de uma educação libertadora, dentro e fora das salas de aulas, temos tudo a ver com essas discussões e resoluções. Nos dias 10 e 11 de maio, realizaremos a 1ª Assembleia de Extensão Universitária, na nossa faculdade, reunindo a academia e a sociedade para discutir e apontar a extensão que queremos ser.


O grande educador Paulo Freire tem um pensamento que pode servir de bússola nessas discussões por um Brasil melhor: “Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”