sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Envelhecer muito bem

Brigitte Olichon
Nutricionista e professora de Nutrição da FMP/Fase

Saúde vai muito além da não existência de doenças. Envolve vários aspectos sociais, culturais, históricos, relacionais e psicológicos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Por isso, é muito difícil afirmar que apenas uma boa dieta possa evitar a perda desse bem tão caro. Ainda assim, alimentar-se bem, tanto na qualidade quanto na quantidade, pode, sim, ajudar a prevenir uma série de doenças que costumam aparecer com o avanço da idade.

A verdade é que estamos envelhecendo mais do que antes, porque os avanços médicos e sociais diminuíram as maiores causas de morte na idade adulta de tempos atrás (infecções, diarreias, desnutrição, entre outros). No entanto, nossa alimentação e ritmo de vida não melhoraram da mesma forma – muitas vezes até podemos dizer que pioraram. Estamos envelhecendo, sim, mas ficando doentes de forma crônica, limitante, dolorosa. Isso não traz a qualidade de vida que esperávamos.

Passamos a vida trabalhando e aguardando o momento da aposentadoria, quando então poderemos aproveitar a vida, mas então nos vemos doentes, limitados, dependentes, infelizes. E, na verdade, esse momento retrata nada mais nada menos que o resultado do que fizemos em nosso corpo durante a juventude. 

Assim, estar doente do coração, ter pressão alta e diabetes, muitas vezes é o resultado de uma vida inteira de descaso com a alimentação e com o nosso próprio corpo. Quando somos jovens, não "sentimos" nada, a "máquina" é nova, vai aguentando e tentando se ajustar aos excessos a que a expomos. Mas, com o tempo, ela se desgasta e não dá mais conta, começa a apresentar seus problemas.

Por isso, o melhor caminho é a prevenção: desde o nascimento, é preciso estar atento à saúde, porque dela depende nossa qualidade de vida inteira. Estudos mostram atualmente que a introdução precoce de alimentos em crianças menores de seis meses pode aumentar muito as chances de desenvolver doenças na idade adulta, sobretudo as que matam, como doenças do coração, obesidade e diabetes. Portanto, a preocupação com a saúde deve existir a vida inteira.

E como seria a aplicação prática desta preocupação, independente da idade? Nosso corpo é capaz de reconhecer e aproveitar os nutrientes de todos os alimentos “de verdade”, ou seja, legumes, verduras, frutas, grãos, carnes e ovos. Os alimentos artificiais, como açúcar refinado, sal, aditivos químicos presentes em produtos industrializados, são estranhos ao corpo, e levam a um desequilíbrio que, em médio e longo prazos, pode desencadear diversos processos de doença.

Além disso, o corpo nasce com uma “programação” das quantidades de cada nutriente de que necessita, e um sistema de descarte dos excessos. Mas esse sistema de descarte tem limites, porque, historicamente, nosso corpo não gosta de descartar nada com medo de uma possível escassez. Assim, comer quantidades exageradas de alguns alimentos pode desencadear a obesidade e o diabetes, por exemplo, simplesmente porque nosso corpo não quer ou não pode jogar o excedente fora. Ou, no caso de ingestão excessiva de proteínas, sofrem os rins e o fígado, porque a proteína é um nutriente muito importante para ser jogado fora, e na verdade, precisamos de bem pouco diariamente para funcionar bem.

Resumindo: ter uma alimentação variada, balanceada em qualidade e quantidade, natural e, se possível, orgânica pode prevenir o aparecimento de muitas doenças que relacionamos ao avanço da idade. Por outro lado, para quem já chegou lá e não pode mais corrigir os erros do passado, uma boa notícia: na maioria das vezes, o organismo consegue recuperar, se não tudo, boa parte, de suas funções normais quando corrigimos nossa alimentação hoje.

Claro que outros cuidados extras podem ser tomados quando avançamos a idade: evitar a cafeína, que relaxa músculos e esfíncteres, pode diminuir os episódios de descontrole urinário e/ou fecal; trocar o sal por ervas aromáticas, uma vez que o paladar muda e, muitas vezes, perdemos a referência de sabor na boca; e evitar excessos com leite e derivados, que podem desencadear diarreias e/ou problemas gástricos ou respiratórios por conta da diminuição natural da produção de enzimas que digerem esses alimentos. 

Enfim, cada caso pode ser um caso, mas prestar atenção às mudanças de seu corpo e de sua rotina pode ajudar muito na prevenção de sinais e sintomas que costumamos relacionar com o envelhecimento. Portanto, nunca é tarde para mudar! Perceba as respostas do seu corpo, ofereça melhores opções alimentares, coma alimentos de verdade, em quantidades adequadas, pratique atividade física, beba água e seja feliz.

Câncer bem explicado


Bernardino Alves Ferreira Neto
Médico do CTO e coordenador do curso de extensão em Oncologia da FMP/Fase

Estamos passando por uma transição demográfica no país, com um rápido envelhecimento da população. Como sabemos, o câncer tem sua maiorincidência a partir dos 50 anos, mas não se pode desprezar a informação de que os casos em mais jovens também vêm aumentando. O câncer é a segunda causa de óbito no Brasil, desde 1996, e será a primeira, em 2020, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

A mortalidade cresceu 500% em 60 anos: de 2,5% para 15,4%. Hoje, de cada sete brasileiros que morrem, um é por câncer. A incidência no Brasil é de mais de 600 mil casos novos por ano, mas acredito em números subestimados.

Além disso, hoje se vive mais com câncer. A expectativa de vida do paciente aumentou devido a melhorias no diagnóstico precoce e, sobretudo, do tratamento oncológico. A Organização Mundial da Saúde estima em 21,4 milhões de casos da doença em 2030, com 13,2 milhões de óbitos e 75 milhões de pessoas vivas com câncer no mundo.

É uma doença cosmopolita em ascensão devido a inúmeras causas como sedentarismo, obesidade, tabagismo e alcoolismo, que reflete nossos hábitos de vida, além, é claro, dos contatos que temos com inúmeros agentes carcinogênicos, como vírus (HPV-HVC-HIV), irradiações, entre outros.

Petrópolis tem o mesmo comportamento das grandes cidades e capitais do Brasil em relação à incidência e mortalidade. Aqui o câncer também é a segunda causa de óbito entre os petropolitanos. Os tumores mais comuns na cidade são de próstata, mama, coloretal e cavidade oral, não muito diferente do quadro das capitais do Sul e Sudeste.

No Brasil, 60% dos casos de câncer são diagnosticados como estágio III-IV por deficiência na rede primária (suspeita e encaminhamento) e na redede média complexidade (diagnóstico). Os problemas levam à maior mortalidade, sofrimento e grande aumento dos custos com o tratamento. Então, fica clara a importância do ensino da oncologia para os profissionais de saúde e de mais informação para a população.

Há incidência crescente, mortalidade em alta, grande número de sobreviventes e mesmo de pessoas com doença em atividades vivas por mais tempo. É uma enfermidade que não é exclusiva do especialista, envolve um grande time inter e multidisciplinar. Por isso, todos devam pensar “é, isso pode ser um câncer”, facilitando o diagnóstico precoce e melhorando a sobrevida e a chance de cura, além de diminuir os custos econômicos e emocionais da doença.