Fomos invadidos! Não, não pense que estamos passando por um momento pré-colonial e tampouco estamos em guerra. Fomos invadidos por milhares de torcedores das mais diversas partes em busca da alegria que somente um de seus países irá permitir: a conquista da Copa do Mundo.
Evento global – por favor, não confundir com globalização –, a Copa permite que o Brasil seja visto e revisto por bilhões de pessoas ao redor do planeta.
Uma parte dessas pessoas aqui estará trazendo divisas e proporcionando às economias locais um aumento de receita que, em anos sem evento de grande apelo, seria impensável.
Mas, o que efetivamente podemos esperar, em termos de economia, da Copa do Mundo?
Para responder, cabe a reflexão sobre algumas questões:
(1) Infraestrutura. Ledo engano pensar que realizamos em pouco mais de três anos todas as obras estruturais de que o país necessitava. Neste aspecto, pode-se pensar em aeroportos e sua malha aérea, rodovias e transporte público como herança de um projeto estrutural de mobilidade urbana que ainda carece de ajustes.
A construção civil foi um setor que muito se beneficiou com a Copa do Mundo. Gerou milhares de empregos movimentando o ciclo econômico. Espera-se, finda a Copa, que essa mão de obra possa ser absorvida em obras de continuidade de melhorias estruturais.
A segurança também passa por uma prova de fogo. Mostrar ao mundo que o Brasil sabe receber – e com segurança – será vital para que novos eventos sejam por aqui produzidos e atraiam ainda mais turistas.
(2) Tecnologia da informação. A Copa poderá servir de validação para as pretensões do Brasil em ser o país referência na América Latina. Investimentos que qualifiquem as transmissões de dados, internet, telefonia, facilidade de acesso e incremento da base de usuários são necessidades prementes para o avanço da TI no país.
(3) Cultura. A forte miscigenação brasileira, por si só, é pródiga em produzir eventos que materializam e perpetuam a cultura e a identidade nacional. Um evento como a Copa não poderá reproduzir a riqueza dessa diversidade promovendo a inter-relação da cultura nacional com a dos países participantes do evento.
(4) Serviços. Sem dúvida é o setor mais privilegiado por um evento como a Copa. Gerou – e ainda gera – milhares de empregos diretos e indiretos, permitindo o desenvolvimento do setor via novos investimentos em gastronomia e hotelaria, movimentando o comércio local cujo incremento traz consigo entrada de divisas.
Os estádios poderão servir de apoio para a implementação de programas públicos locais, com pequenas adaptações que sirvam como postos de saúde, escolas públicas e outros centros de atendimento à população dentro das características de cada região.
O PIB, ainda cambaleante, não dá sinais de recuperação. Afirmar que a Copa irá catapultá-lo é um pensamento simplista dadas as nuances econômicas, como estimativa de inflação, e as não econômicas, como manifestações e eleições.
O ponto preocupante é o endividamento das famílias. Eventos como este trazem a reboque mais prestações, mais gastos nos cartões de crédito, logo, maior aperto financeiro pós-Copa. Tradicionalmente, aumentam as vendas de televisores e bebidas e, como somos um povo altamente hospitaleiro, consumimos mais carnes e outros acepipes, aumentando os nossos gastos e comprometendo o orçamento familiar.
Fato é que, juros à parte, temos que mostrar ao mundo que somos um país com alta capacidade de atrair investimentos e investidores. A Copa foi um exemplo de que empresas dos mais diversos portes fizeram mais investimentos.
Oportunidades existem e a capacidade do Estado em gerir essa entrada será a receita do futuro de sucesso de um país que, espera-se, atraia mais pelo que pode oferecer em termos produtivos do que meramente em termos especulativos.
A Copa é boa vitrine para mostrarmos ao mundo um novo Brasil, economicamente viável e politicamente estável.
O legado da Copa ainda é difícil de mensurar. Mas, se como diz o dito popular "não desistimos nunca", porque não havemos de acreditar?
Humberto Medrado
Humberto Medrado é professor da FMP/Fase, economista e administrador, mestre em administração e doutorando em administração.
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