A Rede Cegonha visa implementar uma rede de
cuidados para assegurar às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e a
atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério (pós-parto). A
iniciativa do Ministério da Saúde do Brasil, lançada em 2011, também busca para
as crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento
saudáveis. Ao propor organizar uma Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil
que garanta acesso, acolhimento e resolutividade, o impacto final que se espera
das ações é a redução da mortalidade e morbidade materna e infantil.
Através do pacto estabelecido no ano 2000 com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil traçou como Objetivos do Milênio
para o ano 2015 uma diminuição nesses coeficientes de mortalidade. Muito
elevados à época e bastante distantes daqueles valores considerados aceitáveis
pela OMS, convivíamos então com quase 30 mortes de crianças no primeiro ano de
vida para cada grupo de mil nascidas vivas. Já a mortalidade materna estava
acima de 80/100 mil nascidos vivos, ou seja, em cada grupo de 100 mil mulheres
que tinham filhos vivos, 80 morriam de complicações relacionadas à gestação,
parto e puerpério, seja de forma direta ou indireta. A meta a ser alcançada era
reduzir este número para 35/100 mil nascidos vivos.
No que tange à redução da mortalidade infantil, a
meta foi atingida, e os dados mais recentes do Ministério da Saúde do Brasil
sinalizam para uma taxa de 16 mortes infantis/mil nascidos vivos. Este
coeficiente ainda é diferente dos obtidos em países do primeiro mundo (abaixo
de dez mortes/mil nascidos vivos), mas representa um avanço quando comparado
aos números de 15 anos atrás.
Outra pesquisa ("Nascer no Brasil: inquérito
nacional sobre parto e nascimento" - Fiocruz/Ministério da Saúde,
divulgada em junho de 2014) mostra números ainda mais preocupantes no que diz
respeito à assistência materna. Embora a cobertura de pré-natal já atinja 70%
das nossas gestantes, mais da metade delas inicia o acompanhamento tardiamente,
após a 12a semana de gestação e um quarto delas não recebe o número
mínimo de consultas preconizado pela OMS (seis consultas).
A morbi-mortalidade nessa população está aumentada
e isto pode ser também justificado pelo fato de 52% dessas mulheres terem a
cesariana como via de parto, enquanto o recomendado pela OMS seria uma
porcentagem de até 15%. Também é grande o número de mulheres que desejariam o
parto normal e não têm a expectativa concretizada.
As condições inadequadas de parto, aliadas a uma
assistência pré-natal incompleta e uma evolução insatisfatória no pós-parto,
contribuem para que ainda convivamos com taxas muito elevadas de mortalidade
materna e dificultam sobremaneira a redução deste coeficiente como pactuado nos
Objetivos do Milênio.
Ao propor uma rede integrada de acesso e
aparelhamento do pré-natal, que garanta atendimento das gestantes desde o
início da gravidez, com realização dos exames de rotina, número adequado de
consultas e um encaminhamento para uma unidade de alto risco se isto se fizer
necessário, o componente pré-natal da Rede Cegonha tenta garantir uma evolução
favorável até o parto.
Ter uma maternidade referenciada, que atenda bem, pode
minimizar os riscos de um desfecho ruim da gestação. O atendimento à puérpera,
com consultas de revisão do parto e o planejamento familiar, com oferta de
métodos contraceptivos, permitirão uma livre escolha de como e quando uma nova
gravidez será planejada.
A Rede Cegonha ainda trabalha com o componente da
logística, que visa não somente oferecer uma rede hospitalar articulada, dando
a garantia de vaga (Vaga Sempre) para a mulher que precisa do suporte
hospitalar para ter o seu bebê, assim como pode facilitar o acesso até esta maternidade.
Por fim, após o nascimento da criança, ela deverá
ser acompanhada em visitas domiciliares e ambulatórios nos seus dois primeiros
anos de vida, fase de maiores riscos, afim de garantir o melhor para o seu
crescimento e desenvolvimento.
O que se pretende com a adoção destas boas práticas
é ter mães e crianças saudáveis, com coeficientes de morbidade e mortalidade
reduzidos, comparáveis aos de países onde a assistência às gestantes e aos
filhos é considerada segura e eficaz.
Vander
Guimarães é médico,
Professor da
Faculdade de Medicina de Petrópolis.
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