quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Rede Cegonha: perspectivas para uma melhor assistência materno-infantil

A Rede Cegonha visa implementar uma rede de cuidados para assegurar às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e a atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério (pós-parto). A iniciativa do Ministério da Saúde do Brasil, lançada em 2011, também busca para as crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis. Ao propor organizar uma Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil que garanta acesso, acolhimento e resolutividade, o impacto final que se espera das ações é a redução da mortalidade e morbidade materna e infantil.

Através do pacto estabelecido no ano 2000 com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil traçou como Objetivos do Milênio para o ano 2015 uma diminuição nesses coeficientes de mortalidade. Muito elevados à época e bastante distantes daqueles valores considerados aceitáveis pela OMS, convivíamos então com quase 30 mortes de crianças no primeiro ano de vida para cada grupo de mil nascidas vivas. Já a mortalidade materna estava acima de 80/100 mil nascidos vivos, ou seja, em cada grupo de 100 mil mulheres que tinham filhos vivos, 80 morriam de complicações relacionadas à gestação, parto e puerpério, seja de forma direta ou indireta. A meta a ser alcançada era reduzir este número para 35/100 mil nascidos vivos.

No que tange à redução da mortalidade infantil, a meta foi atingida, e os dados mais recentes do Ministério da Saúde do Brasil sinalizam para uma taxa de 16 mortes infantis/mil nascidos vivos. Este coeficiente ainda é diferente dos obtidos em países do primeiro mundo (abaixo de dez mortes/mil nascidos vivos), mas representa um avanço quando comparado aos números de 15 anos atrás.
Outra pesquisa ("Nascer no Brasil: inquérito nacional sobre parto e nascimento" - Fiocruz/Ministério da Saúde, divulgada em junho de 2014) mostra números ainda mais preocupantes no que diz respeito à assistência materna. Embora a cobertura de pré-natal já atinja 70% das nossas gestantes, mais da metade delas inicia o acompanhamento tardiamente, após a 12a semana de gestação e um quarto delas não recebe o número mínimo de consultas preconizado pela OMS (seis consultas).

A morbi-mortalidade nessa população está aumentada e isto pode ser também justificado pelo fato de 52% dessas mulheres terem a cesariana como via de parto, enquanto o recomendado pela OMS seria uma porcentagem de até 15%. Também é grande o número de mulheres que desejariam o parto normal e não têm a expectativa concretizada.

As condições inadequadas de parto, aliadas a uma assistência pré-natal incompleta e uma evolução insatisfatória no pós-parto, contribuem para que ainda convivamos com taxas muito elevadas de mortalidade materna e dificultam sobremaneira a redução deste coeficiente como pactuado nos Objetivos do Milênio.

Ao propor uma rede integrada de acesso e aparelhamento do pré-natal, que garanta atendimento das gestantes desde o início da gravidez, com realização dos exames de rotina, número adequado de consultas e um encaminhamento para uma unidade de alto risco se isto se fizer necessário, o componente pré-natal da Rede Cegonha tenta garantir uma evolução favorável até o parto.
Ter uma maternidade referenciada, que atenda bem, pode minimizar os riscos de um desfecho ruim da gestação. O atendimento à puérpera, com consultas de revisão do parto e o planejamento familiar, com oferta de métodos contraceptivos, permitirão uma livre escolha de como e quando uma nova gravidez será planejada.

A Rede Cegonha ainda trabalha com o componente da logística, que visa não somente oferecer uma rede hospitalar articulada, dando a garantia de vaga (Vaga Sempre) para a mulher que precisa do suporte hospitalar para ter o seu bebê, assim como pode facilitar o acesso até esta maternidade.

Por fim, após o nascimento da criança, ela deverá ser acompanhada em visitas domiciliares e ambulatórios nos seus dois primeiros anos de vida, fase de maiores riscos, afim de garantir o melhor para o seu crescimento e desenvolvimento.

O que se pretende com a adoção destas boas práticas é ter mães e crianças saudáveis, com coeficientes de morbidade e mortalidade reduzidos, comparáveis aos de países onde a assistência às gestantes e aos filhos é considerada segura e eficaz.

Vander Guimarães é médico,

Professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis.


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Departamento de Comunicação Faculdade Arthur Sá Earp Neto/Faculdade de Medicina de Petrópolis