quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Sobre a recente elevação da taxa de câmbio R$/US$



Por Gabriel Mamed
Economista. Professor do curso de Administração da FMP/Fase

Para o desespero dos economistas, por vezes os mesmos são chamados a explicar o imponderável e o não-quantificável. Isso torna qualquer projeção e explicação mais complexa, por envolver elementos sociais, políticos, históricos, psicológicos, entre outros, cuja aplicação em modelos matemáticos e determinísticos é muito difícil, senão impossível, impedindo, assim, que a resposta seja única e perene no longo prazo, até porque, dada a natureza dos fatores envolvidos, tudo pode se modificar substancialmente de uma hora para outra, como se modifica.

O parágrafo acima foi necessário para que se possa responder, aqui, a dúvida de tantas pessoas, alunos ou não, com relação à rápida e crescente trajetória de valorização da moeda norte-americana. Não pretendo expor todos os elementos que afetam a taxa cambial, mas aqueles que têm mais influenciado na alta do dólar em nossa economia.

Inicialmente, pode-se mencionar a queda, desde 2011, na demanda e no preço das commodities¹, decorrente da crise econômica registrada nos principais parceiros comerciais do Brasil, como os EUA, a União Europeia, a Argentina e a China, embora este último país não esteja propriamente em crise, mas apresenta redução em suas taxas de crescimento, o que tem reflexo sobre a demanda. No caso da Argentina é ainda mais grave pois temos, nesse país, o principal mercado para os bens de maior valor agregado aqui produzidos. Assim, como se vende menos e a um preço menor, potencializa-se a redução na entrada de dólares (aumentando seu preço) no Brasil.

Um outro elemento que tem sido determinante para a apreciação da divisa, não apenas frente ao Real, mas também frente às moedas de diversos outros países, é a lenta, mas constante, recuperação norte-americana, que vem ocorrendo desde 2013, o que indica que o Federal Reserve Bank-FED (banco central americano) deverá retirar, ainda mais, os estímulos dados à economia. Dessa forma, uma revisão no sentido de elevação das taxas de juros nos EUA é esperada pelos mercados. Isso tem, como efeito, a busca de contratos indexados à moeda americana e a saída de dólares dos mercados financeiros que oferecem maior retorno, mas também maiores riscos, em direção ao país ianque. Consequentemente, a oferta da moeda norte-americana fica reduzida em diversos países, depreciando suas moedas.

O terceiro fator, e que motivou a introdução deste artigo, diz respeito às incertezas com relação à economia, o que faz com que os investidores procurem refúgio no dólar, elevando sua demanda e, portanto, seu preço. Essas incertezas têm ocorrido em todo o mundo, contudo, em nosso país o quadro político-econômico tem se mostrado extremamente preocupante.

Os escândalos relacionados à corrupção na esfera público-privada, mesmo que investigados e punidos os seus atores, contribuem negativamente para a sensação de aumento do risco institucional. Os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, em todas as esferas, e as instituições a eles ligadas, envolvidas e fragilizadas, acabam por gerar insegurança quanto à governabilidade do País e regulamentações de diversas ordens, dentre elas, a econômica.

Aliados à questão acima estão os diversos interesses de grupos políticos, midiáticos e econômicos, pró e contra governo que, motivados pelo poder e pelo dinheiro, muito mais do que pelo bem do País, travam batalhas verbais e judiciárias e, muitas vezes, especulam contra a economia (e o dólar é um dos elementos de especulação), o que faz crescer o ambiente de insegurança.

Esse último fator, portanto, é o mais difícil de ser controlado, uma vez que não depende apenas da manipulação de variáveis mais objetivas à disposição da Ciência Econômica, como taxas de juros ou de câmbio. O ser humano é, justamente, a variável subjetiva do processo e, por isso mesmo, a mais difícil de ser trabalhada. Tudo pode mudar subitamente, dependendo dos interesses que se queira atingir. E isso gera conflitos. Só resta esperar que os agentes envolvidos tenham capacidade suficiente para solucioná-los da melhor forma possível.


¹ Por "commodities" entende-se, geralmente, bens de origem primária e mineral, de grande importância no comércio internacional. Como exemplos, pode-se citar o trigo, milho, soja, minério de ferro, entre outros. 

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Departamento de Comunicação Faculdade Arthur Sá Earp Neto/Faculdade de Medicina de Petrópolis