Por
Gabriel Mamed
Economista.
Professor do curso de Administração da FMP/Fase
Para o desespero dos economistas, por vezes os
mesmos são chamados a explicar o imponderável e o não-quantificável. Isso torna
qualquer projeção e explicação mais complexa, por envolver elementos sociais,
políticos, históricos, psicológicos, entre outros, cuja aplicação em modelos
matemáticos e determinísticos é muito difícil, senão impossível, impedindo,
assim, que a resposta seja única e perene no longo prazo, até porque, dada a
natureza dos fatores envolvidos, tudo pode se modificar substancialmente de uma
hora para outra, como se modifica.
O parágrafo acima foi necessário para que se possa
responder, aqui, a dúvida de tantas pessoas, alunos ou não, com relação à
rápida e crescente trajetória de valorização da moeda norte-americana. Não
pretendo expor todos os elementos que afetam a taxa cambial, mas aqueles que
têm mais influenciado na alta do dólar em nossa economia.
Inicialmente, pode-se mencionar a queda, desde
2011, na demanda e no preço das commodities¹, decorrente da crise
econômica registrada nos principais parceiros comerciais do Brasil, como os
EUA, a União Europeia, a Argentina e a China, embora este último país não
esteja propriamente em crise, mas apresenta redução em suas taxas de
crescimento, o que tem reflexo sobre a demanda. No caso da Argentina é ainda
mais grave pois temos, nesse país, o principal mercado para os bens de maior
valor agregado aqui produzidos. Assim, como se vende menos e a um preço menor,
potencializa-se a redução na entrada de dólares (aumentando seu preço) no
Brasil.
Um outro elemento que tem sido determinante para a
apreciação da divisa, não apenas frente ao Real, mas também frente às moedas de
diversos outros países, é a lenta, mas constante, recuperação norte-americana,
que vem ocorrendo desde 2013, o que indica que o Federal Reserve Bank-FED
(banco central americano) deverá retirar, ainda mais, os estímulos dados à
economia. Dessa forma, uma revisão no sentido de elevação das taxas de juros
nos EUA é esperada pelos mercados. Isso tem, como efeito, a busca de contratos
indexados à moeda americana e a saída de dólares dos mercados financeiros que
oferecem maior retorno, mas também maiores riscos, em direção ao país ianque.
Consequentemente, a oferta da moeda norte-americana fica reduzida em diversos
países, depreciando suas moedas.
O terceiro fator, e que motivou a introdução deste
artigo, diz respeito às incertezas com relação à economia, o que faz com que os
investidores procurem refúgio no dólar, elevando sua demanda e, portanto, seu preço.
Essas incertezas têm ocorrido em todo o mundo, contudo, em nosso país o quadro
político-econômico tem se mostrado extremamente preocupante.
Os escândalos relacionados à corrupção na esfera
público-privada, mesmo que investigados e punidos os seus atores, contribuem
negativamente para a sensação de aumento do risco institucional. Os poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário, em todas as esferas, e as instituições a
eles ligadas, envolvidas e fragilizadas, acabam por gerar insegurança quanto à
governabilidade do País e regulamentações de diversas ordens, dentre elas, a
econômica.
Aliados à questão acima estão os diversos
interesses de grupos políticos, midiáticos e econômicos, pró e contra
governo que, motivados pelo poder e pelo dinheiro, muito mais do que pelo
bem do País, travam batalhas verbais e judiciárias e, muitas vezes, especulam
contra a economia (e o dólar é um dos elementos de especulação), o que faz
crescer o ambiente de insegurança.
Esse último fator, portanto, é o mais difícil de ser
controlado, uma vez que não depende apenas da manipulação de variáveis mais
objetivas à disposição da Ciência Econômica, como taxas de juros ou de câmbio.
O ser humano é, justamente, a variável subjetiva do processo e, por isso mesmo,
a mais difícil de ser trabalhada. Tudo pode mudar subitamente, dependendo dos
interesses que se queira atingir. E isso gera conflitos. Só resta esperar que
os agentes envolvidos tenham capacidade suficiente para solucioná-los da melhor
forma possível.
¹ Por
"commodities" entende-se, geralmente, bens de origem primária e
mineral, de grande importância no comércio internacional. Como exemplos,
pode-se citar o trigo, milho, soja, minério de ferro, entre outros.
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Departamento de Comunicação Faculdade Arthur Sá Earp Neto/Faculdade de Medicina de Petrópolis