Por
Gabriel Mamed
Economista.
Professor do curso de Administração da FMP/Fase
A elevação da taxa de câmbio R$/US$ nos últimos
tempos é vista, pela maioria das pessoas, como indesejável, uma vez que, para
uma parcela da sociedade (no nosso caso, a menor), a preocupação reside em
questões relacionadas a viagens ao exterior ou às mercadorias importadas
(eletrônicos e alguns gêneros alimentícios, por exemplo), que se tornaram
mais caras. Em breve, veremos noticiários reportando a alta de preços do
bacalhau e do azeite de melhor qualidade, que farão a Páscoa um pouco mais
onerosa que no ano passado.
No entanto, a preocupação, conforme retratado nos
parágrafos abaixo, deveria ir muito além do que o consumo.
Considerando-se a expressão coeteris
paribus¹, utilizada sobretudo pela Economia, duas consequências mais
comuns, uma positiva e outra negativa, podem decorrer da elevação do dólar: o
aumento das exportações e a pressão inflacionária.
Com relação ao primeiro efeito, é importante saber
que a valorização da divisa internacional representa a desvalorização relativa
da moeda doméstica, o que significa dizer que, agora, são necessárias mais
unidades de Real para adquirir uma unidade de Dólar, ou menos unidades de Dólar
para adquirir uma unidade de Real. Dessa forma, torna-se mais fácil, a quem
possui a moeda norte-americana, consumir as mercadorias aqui produzidas.
Exemplo:
Considerando, inicialmente, uma taxa de câmbio de
R$ 2,00/US$, uma mercadoria cujo preço seja R$ 100,00 custará, na moeda
norte-americana, US$ 50,00. Caso o dólar passe a valer R$ 4,00, o mesmo bem
terá seu preço reduzido para US$ 25,00.
Portanto, percebe-se que a desvalorização da moeda
doméstica frente à moeda internacional acaba por estimular as vendas ao
exterior, pois as mercadorias nacionais ganham competitividade via preço. Isso,
em princípio, incentivaria as empresas a produzirem mais, contribuindo para a
elevação do Produto Interno Bruto (PIB), que seria “puxado” pela demanda
externa. Ou seja, a alta do dólar é favorável para as empresas do setor
exportador.
A segunda consequência está relacionada à pressão
inflacionária. Uma desvalorização da moeda nacional, por aumentar as
exportações, acaba por reduzir a oferta interna de bens, o que pode acarretar
uma elevação em seus preços. Além disso, como cada unidade de real está valendo
menos, os produtores desejarão elevar os preços como forma de preservar o valor
de suas mercadorias. Isso exigirá do governo a adoção de medidas
anti-inflacionárias, como a elevação da taxa de juros.
Há que se notar que, no caso contrário, de
valorização do Real, os efeitos serão, também, contrários. A exportação será
prejudicada, mas a importação será beneficiada, o que pode, se não houver algum
tipo de controle, desestimular a produção nacional, reduzindo, assim, os níveis
de emprego e renda do País.
Pela maior oferta de bens no mercado interno, a
tendência é que os preços sofram uma redução. Mas haverá pessoas empregadas e
renda suficiente para o consumo, mesmo a preços mais reduzidos?
Outras questões se colocam, a partir do que foi
visto acima:
Existe uma taxa de câmbio de equilíbrio? Como
determiná-la? Essa seria a melhor taxa para uma dada economia?
São questões bem difíceis de serem respondidas, uma
vez que a determinação dessa taxa dependerá de diferentes variáveis que podem
modificar rapidamente.
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Departamento de Comunicação Faculdade Arthur Sá Earp Neto/Faculdade de Medicina de Petrópolis