Nutricionista e professora de Nutrição da FMP/Fase
Saúde vai muito além da não
existência de doenças. Envolve vários aspectos sociais, culturais, históricos,
relacionais e psicológicos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Por isso, é
muito difícil afirmar que apenas uma boa dieta possa evitar a perda desse bem
tão caro. Ainda assim, alimentar-se bem, tanto na qualidade quanto na
quantidade, pode, sim, ajudar a prevenir uma série de doenças que costumam
aparecer com o avanço da idade.
A verdade é que estamos
envelhecendo mais do que antes, porque os avanços médicos e sociais diminuíram
as maiores causas de morte na idade adulta de tempos atrás (infecções,
diarreias, desnutrição, entre outros). No entanto, nossa alimentação e ritmo de
vida não melhoraram da mesma forma – muitas vezes até podemos dizer que
pioraram. Estamos envelhecendo, sim, mas ficando doentes de forma crônica,
limitante, dolorosa. Isso não traz a qualidade de vida que esperávamos.
Passamos a vida trabalhando
e aguardando o momento da aposentadoria, quando então poderemos aproveitar a
vida, mas então nos vemos doentes, limitados, dependentes, infelizes. E, na
verdade, esse momento retrata nada mais nada menos que o resultado do que
fizemos em nosso corpo durante a juventude.
Assim, estar doente do
coração, ter pressão alta e diabetes, muitas vezes é o resultado de uma vida
inteira de descaso com a alimentação e com o nosso próprio corpo. Quando somos
jovens, não "sentimos" nada, a "máquina" é nova, vai
aguentando e tentando se ajustar aos excessos a que a expomos. Mas, com o
tempo, ela se desgasta e não dá mais conta, começa a apresentar seus problemas.
Por isso, o melhor caminho
é a prevenção: desde o nascimento, é preciso estar atento à saúde, porque dela
depende nossa qualidade de vida inteira. Estudos mostram atualmente que a
introdução precoce de alimentos em crianças menores de seis meses pode aumentar
muito as chances de desenvolver doenças na idade adulta, sobretudo as
que matam, como doenças do coração, obesidade e diabetes. Portanto, a
preocupação com a saúde deve existir a vida inteira.
E como seria a aplicação
prática desta preocupação, independente da idade? Nosso corpo é capaz de
reconhecer e aproveitar os nutrientes de todos os alimentos “de verdade”, ou
seja, legumes, verduras, frutas, grãos, carnes e ovos. Os alimentos
artificiais, como açúcar refinado, sal, aditivos químicos presentes em produtos
industrializados, são estranhos ao corpo, e levam a um desequilíbrio que,
em médio e longo prazos, pode desencadear diversos processos
de doença.
Além disso, o corpo nasce
com uma “programação” das quantidades de cada nutriente de que necessita,
e um sistema de descarte dos excessos. Mas esse sistema de descarte tem
limites, porque, historicamente, nosso corpo não gosta de descartar nada com
medo de uma possível escassez. Assim, comer quantidades exageradas de alguns
alimentos pode desencadear a obesidade e o diabetes, por exemplo, simplesmente
porque nosso corpo não quer ou não pode jogar o excedente fora. Ou, no caso de
ingestão excessiva de proteínas, sofrem os rins e o fígado, porque a proteína é
um nutriente muito importante para ser jogado fora, e na verdade, precisamos
de bem pouco diariamente para funcionar bem.
Resumindo: ter uma alimentação
variada, balanceada em qualidade e quantidade, natural e, se possível, orgânica
pode prevenir o aparecimento de muitas doenças que relacionamos ao avanço da
idade. Por outro lado, para quem já chegou lá e não pode mais corrigir os
erros do passado, uma boa notícia: na maioria das vezes, o organismo consegue
recuperar, se não tudo, boa parte, de suas funções normais quando
corrigimos nossa alimentação hoje.
Claro
que outros cuidados extras podem ser tomados quando avançamos a
idade: evitar a cafeína, que relaxa músculos e esfíncteres, pode diminuir
os episódios de descontrole urinário e/ou fecal; trocar o sal por ervas
aromáticas, uma vez que o paladar muda e, muitas vezes, perdemos a referência
de sabor na boca; e evitar excessos com leite e derivados, que podem
desencadear diarreias e/ou problemas gástricos ou respiratórios por conta
da diminuição natural da produção de enzimas que digerem esses alimentos.
Enfim, cada caso pode ser
um caso, mas prestar atenção às mudanças de seu corpo e de sua rotina pode
ajudar muito na prevenção de sinais e sintomas que costumamos relacionar
com o envelhecimento. Portanto, nunca é tarde para mudar! Perceba as
respostas do seu corpo, ofereça melhores opções alimentares, coma alimentos de
verdade, em quantidades adequadas, pratique atividade física, beba água e seja
feliz.
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Departamento de Comunicação Faculdade Arthur Sá Earp Neto/Faculdade de Medicina de Petrópolis