sexta-feira, 26 de junho de 2009

Artigo publicado no Jornal Estado de Minas



O Jornal Estado de Minas publicou na última semana um artigo do professor Paulo Sá. O texto fala sobre prevenção de doenças e a formação da nova geração de médicos.

Leia o texto:

Alimentação equilibrada, prática regular de exercícios físicos e manutenção de hábitos saudáveis como dormir bem, não fumar e a ingestão moderada de bebidas alcoólicas. Essa vem sendo a fórmula apresentada pelos estudos científicos para uma vida longeva e de qualidade. Os resultados de tais pesquisas, por sua vez, são largamente reproduzidos pela imprensa. Apesar da difusão de informações, ainda existe um longo caminho para que esses hábitos se transformem em rotina para os brasileiros. O fato de nos alimentarmos mal e não encontrar tempo para a prática de exercícios tem nos tornado uma população obesa. Adotar os preceitos de uma vida saudável representa uma mudança de paradigma.

Não é novidade que o avanço da medicina é crescente. Cada vez mais se descobrem novos medicamentos, novos equipamentos e novas técnicas. O custo dessas novas tecnologias, no entanto, são altos para compensar os altos investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Sem descartar a relevância e importância do progresso técnico-científico, o governo precisa orientar suas políticas de saúde para a medicina preventiva cujo custo é mais barato e eficiente. Da mesma forma, as pessoas precisam se conscientizar que são co-responsáveis na gestão de sua saúde. Os maus hábitos já doem no bolso. Pessoas que fumam ou apresentam mais riscos de contrair doenças pagam mais caro na hora de contratar um plano de saúde, por exemplo.

Na Antiguidade, o equilíbrio entre corpo e mente era mais valorizado, mas, na sociedade contemporânea, o ritmo acelerado de nossas vidas dificulta a adoção de hábitos mais saudáveis. Por isso, o nosso compromisso deve ser aprender a evitar as doenças principalmente os males da vida moderna, tais como: depressão por estresse e frustração; síndrome do pânico; doenças cardiovasculares; diabetes; doenças osteoarticulares; câncer; e outros. Afinal, o médico é capaz de resolver o problema da doença, mas as pessoas podem aprender a evitá-lo. Inverte-se a lógica que a sociedade ocidental tem da doença. Ao invés do tratamento, a medicina social se dedica à prevenção.

O Programa de Saúde da Família é um exemplo dessa tentativa de melhorar o atendimento em atenção básica e de desenvolver o conceito de co-responsabilidade no cuidado à saúde junto às comunidade atendidas. Além da prevenção e promoção à saúde, destaca-se que, do ponto de vista assistencial, mais de 80% das patologias que acometem a população estão dentro do escopo do Saúde da Família. No contato diário com os pacientes assistidos, os médicos conseguem conscientizá-los e também entender às demandas e especificidades daquela comunidade. O esclarecimento da população se dá em um processo dialógico e de entendimento entre equipe médica e pacientes.

O diagnóstico de um paciente, por exemplo, pode ser hipertensão, mas as causas que desencadeiam a pressão alta podem ser diversas, desde má alimentção a fatores emocionais. No contato com a realidade social e cultural, a equipe médica consegue entender a lógica de seus pacientes bem como as melhores formas de tratar um problema. A inserção na região para reverter a incidência de uma patologia acontece tanto socialmente como por meio de intervenções ambientais. Ajudar a identificar potenciais de sustentabilidade é um dos desafios das equipes de saúde da família.

O programa de saúde da família tem demonstrado seu êxito, mas é preciso ampliá-lo e aperfeiçoá-lo até que atinja a totalidade dos brasileiros, independentemente de classe social. Isso é importante para que o Sistema Único de Saúde (SUS) cumpra a missão para a qual foi criado pela Constituição Federal de 1988, a saber, prover o acesso ao atendimento público de saúde a toda a população. O desafio para que isso ocorra é formar médicos que estejam preocupados e atentos às demandas sociais.

No entanto, os estudantes de medicina, de um modo geral, estão cada vez mais preocupados com a especialização. Na realidade, existe escassez do profissional capaz de avaliar o conjunto do ser humano. Essa visão holística, embora propalada, ainda é rara de ser encontrada na prática da medicina. Apesar de crescente, a preocupação com a saúde coletiva e preventiva ainda não encontrou eco entre os jovens estudantes que, desiludidos com a desvalorização da profissão, preferem apostar e investir na formação segmentada.

*Paulo Sá é médico, professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis e ex-secretário de Saúde de Petrópolis.