quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Ano novo, velho problema


Paulo Cesar Guimarães

Membro do Comitê de Infectologia da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro e diretor da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP/Fase).

Já chegou o verão e o que nos evocam essas palavras não soam como música. São mais um sinal de alerta para o alto risco de doenças provocadas pelas picadas do Aedes aegypt no período: dengue, zika e chicungunha. Muito já se falou sobre o grande mal de continuarmos alimentando criadouros de mosquitos em água parada, mas a volta da estação do calor forte e das chuvas mostrará que mais ainda precisa ser feito para vencer a luta contra o inseto.

Há campanhas de esclarecimento na TV, ruas inteiras de doentes, óbitos registrados e, mesmo assim, muitos não estão ligando para o problema. Ou até se lembram de evitar a reprodução dos mosquitos, fazendo uma inspeção rápida em casa, para logo esquecer que é melhor remediar do que engrossar as dolorosas estatísticas. Sem falar na falta de investimentos governamentais em saneamento país afora. O dever de casa vale para o ano todo, da nossa parte e das autoridades.

O drama só piora quando sabemos que o Aedes é que pode transmitir a febre amarela na versão urbana, enquanto os Haemagogus e Sabethes são os responsáveis pelos casos silvestres no Brasil. Tão mais grave que não controlar os mosquitos é seguir fugindo da vacinação contra a doença.

Mais de 480 pessoas já morreram infectadas no Brasil, de julho de 2017 até agora, mas boa parte da população segue com medo da vacina, evitando a ida aos postos de saúde e preferindo ficar exposta às picadas do inseto. Com as férias se aproximando, cabe frisar que a vacinação é defesa fundamental para quem viajará para áreas de matas.

O baixo índice vacinal assusta. Só na cidade do Rio, sem vacina, 3,9 milhões de pessoas continuam desprotegidas. Muito do comportamento desleixado se explica pela falsa crença de que o vírus da febre amarela não circula mais. Há também o problema das ditas “fake news”, martelando falsas informações sobre a segurança das vacinas. Com menos pessoas protegidas, maior o risco de a febre amarela ganhar as cidades, deixando os limites das matas.

É preciso cada um fazer a sua parte para que a febre amarela e as outras doenças transmitidas pelo Aedes não virem uma triste epidemia. Ninguém aguenta tanta estatística negativa. Que 2019 chegue com mais saúde!