segunda-feira, 23 de maio de 2016

A corrupção e o self-compliance

GABRIEL MAMED
Economista e professor da FMP/Fase

Atualmente, vivemos dias difíceis. Escândalos de todos os tipos têm vindo à tona, evidenciando a corrupção.  Mas o que é a corrupção, que tanto estrago causa à sociedade? O termo tem origem no verbo corromper, que significa tornar podre, quebrar aos pedaços, deteriorar ou perverter moralmente. É um fenômeno mundial e atravessa os tempos. E o que faz com que alguns ajam de maneira indevida para alcançar algum tipo de vantagem?

Primeiramente, a corrupção não é praticada apenas por políticos e empresários. Toda a sociedade está sujeita a ela, cometendo as pequenas infrações do dia a dia, que se inserem no conceito de corrupção: furar filas, subornar para se livrar de uma multa, colar em uma prova, entre outras formas.

Alguns fatores, embora não a justifiquem, ajudam a explicá-la. O primeiro diz respeito ao que ocorre com nossa escala de valores, isto é, o modo como as pessoas e as organizações estão se comportando e relacionando.  O que aconteceu à ética, à honestidade, à justiça, à lealdade, aos valores morais?

O primeiro grupo em que o indivíduo se vê inserido é a família, sendo esta a responsável por lhe passar as principais regras de comportamento e os principais valores, educando a pessoa para a vida em sociedade. Contudo, muitas vezes vemos famílias desestruturadas, problemas e dificuldades familiares que influenciam negativamente essa pessoa, que se desenvolve em meio a expedientes que deixam a desejar em termos de comportamento ético, mas que se mostram, às vezes, como a única maneira de sobreviver.

Outra questão que contribui para o atual estado das coisas é a disseminação do famoso “jeitinho”, a busca de soluções fáceis e rápidas para determinados problemas. A prática, muitas vezes inconsciente, porque já está enraizada culturalmente e é tida como normal, acaba sendo estimulada por outro elemento: a impunidade, que se realimenta, não só dos interesses de alguns, como também do exemplo dado por governantes – que saem da própria sociedade - e da visão de serem esses pequenos atos de corrupção, atos que não geram grande prejuízo a ninguém.

O comportamento do indivíduo passa, muitas vezes, para as organizações (políticas, empresariais ou do terceiro setor), que são compostas e dirigidas por esses mesmos indivíduos, e que muitas vezes corrompem e se deixam corromper, em troca de poder, vantagens ou de lucros maiores. Nesse caso, o crime de corrupção leva a outros crimes, como o tráfico de influência, subtração dos recursos públicos, sonegação, desfalques, peculato etc.

Com relação, ainda, a essas organizações, é necessário que as práticas de compliance sejam exercidas, ou seja, que as instituições ajam com respeito às regras estabelecidas, interna e externamente. Essa atividade, atualmente, reveste-se de um caráter profissional, e vai além da observância desses preceitos, mas é a eles que me refiro. É importante destacar que o compliance é um grande aliado da empresa, pois influencia na boa imagem da organização junto ao mercado, o que pode lhe garantir expansão das vendas e maiores lucros, sem recorrer a expedientes ilegais.

Está claro que a corrupção cria insegurança, principalmente quando atinge o Estado, elemento responsável por prover o bem-estar social. Dependendo do grau de envolvimento dos agentes públicos e dos danos causados, pode gerar desconfiança de investidores, empresários e consumidores com relação às políticas governamentais, o que resultaria em crise, não apenas política, mas também econômica, como vemos agora.

A solução? Está em nós mesmos, sendo necessário que cada indivíduo faça um reexame de suas práticas, criando o seu self-compliance, ou seja, monitorando a si mesmo quanto aos seus valores.