Por
Gabriel Mamed
Economista.
Professor do curso de Administração da FMP/Fase
A
Ciência Econômica, definida como “a ciência que busca administrar recursos
escassos, com a finalidade de promover o bem-estar social”, ao contrário do que
muitos pensam, não é uma ciência exata. Embora transite por complicadas
equações matemáticas e estatísticas, é uma ciência social aplicada, o que a
torna ainda mais difícil, uma vez que qualquer política, ao ser implementada,
dependerá, para o seu sucesso, das expectativas e reações – positivas ou
negativas – daqueles a quem a referida ciência chama de agentes econômicos, ou
seja, indivíduos, empresas e o próprio governo.
Costumo
frisar aos meus alunos do curso de Administração, que a credibilidade por parte
dos agentes assume papel fundamental na economia e no processo decisório das
diferentes organizações. Caso acreditem em determinada medida, a apoiarão. Caso
não, procurarão boicotá-la ou defender-se, fazendo com que a política não
apresente o resultado esperado.
Como
é sabido, as diversas áreas do conhecimento não são fechadas em si mesmas, mas
relacionam-se com diversas outras. Isso acaba por gerar uma série de
influências e inter-relações que poderão alterar, de um momento para outro, o
quadro econômico. No caso da Economia, a mesma sofre grande influência de
variáveis históricas, políticas e sociais, além de interesses particulares.
Essa confluência de fatores nos traz ao momento atual de crise. Num mundo cada
vez mais globalizado, o ambiente internacional também pode contaminar positiva
ou negativamente a Economia.
No
aspecto econômico interno, políticas mal implementadas e gastos governamentais
excessivos e mal geridos tiveram papel crucial para as dificuldades ora
vividas.
O
quadro político que vivemos, caracterizado pela disputa pelo poder, polarização
ideológica, escândalos de corrupção e instabilidade governamental, influencia
junto aos indivíduos e empresas de modo que os agentes procuram se defender das
incertezas geradas, inibindo novos investimentos produtivos ou adiando planos
de consumo. Essas atitudes somente agravam a situação econômica. Menos
investimentos significam menos empregos, menos salários e menos tributos,
dificultando o atendimento às diversas demandas sociais. Menos consumo
significa redução no padrão de vida da população e do fluxo de recursos que
realimenta o processo produtivo.
Além
disso, investidores e indivíduos buscam proteger o valor de suas reservas
monetárias adquirindo ativos de maior segurança, como por exemplo, os indexados
ao dólar. Dessa forma, com o aumento da demanda, a taxa de câmbio refletirá um
aumento no preço da moeda estrangeira, valorizando-a, em detrimento do valor da
moeda nacional. Se, por um lado, isso pode significar maior vantagem para os
exportadores, por outro pode prejudicar as empresas que importam
matérias-primas e equipamentos para o seu processo produtivo, elevando seu
custo.
Com
a elevação do câmbio, o combate à inflação também fica prejudicado, por conta
do aumento de preço das importações e do direcionamento da produção ao mercado
externo, reduzindo a oferta interna. A busca pela taxa de câmbio mais favorável
será papel do Banco Central do Brasil, que atuará no sentido de induzir o valor
do dólar, mediante a utilização das reservas internacionais, hoje em torno de
US$ 370 bilhões. Resta saber se essa atuação será suficiente para superar as expectativas
negativas de indivíduos e empresas.
Esse
movimento de elevação da moeda internacional mostra, claramente, a influência
do elemento político e do fator psicológico na reação da sociedade, e seus
reflexos sobre o ambiente econômico.
Portanto,
até que os ânimos se acalmem no cenário político, a economia estará sujeita a
movimentos de alta e de baixa, navegando ao sabor dos acontecimentos.
Às
empresas e investidores cabe monitorar as medidas tomadas pelo governo para
debelar a crise de credibilidade e diminuir as incertezas, e acompanhar os
indicadores econômicos e a situação política, para decidirem o momento certo de
voltar a investir, com riscos mais aceitáveis.
À
sociedade de maneira geral cabe promover o consumo responsável, evitando
endividamento desnecessário, precavendo-se, assim, de qualquer surpresa
negativa no futuro.
A
todos, a necessidade de ser dada maior atenção aos aspectos políticos, uma vez
que, mesmo que não pareça, interferem sobremaneira no desenvolvimento econômico
do país.