sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Todos contra um mosquito

Paulo Cesar Guimarães
















Professor e diretor da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP/Fase) e membro do Comitê de Infectologia da Sociedade de Pediatria do Estado do RJ

Ao acreditar mais no tratamento do que na prevenção de doenças, a maioria dos brasileiros segue perdendo a luta para o Aedes aegypti. O verão chegou e, com ele, o alerta necessário de que basta um pouco de água parada em casa para facilitar a proliferação do inimigo e o risco de epidemias. Se antes o problema conhecido era o mosquito ser o transmissor da dengue, hoje temos também os vírus da zika e da chicungunha para enfrentar.

Tudo fica mais preocupante ao lembrarmos que, nos verões passados, o avanço do zika vírus provocou a microcefalia em bebês, assustando as gestantes e milhares de famílias. A certeza de que o mesmo mosquito era o vetor da doença veio após os estudos desenvolvidos por pesquisadores brasileiros. O esforço conjunto para a identificação da causa e da epidemia rendeu recentemente à pesquisadora Celina Turchi um lugar entre as dez cientistas mais importantes do planeta, segundo a revista britânica “Nature”.  

Agora, a médica da Fiocruz em Pernambuco alerta que, mesmo com todos os nossos estudos, dificilmente teremos uma vacina contra zika antes de três ou cinco anos. Ou seja, a prevenção e o combate ao Aedes continuam sendo os remédios mais eficazes nessa luta contra a proliferação das larvas. Também devemos sempre chamar atenção para a possível transmissão sexual do vírus da zika, sendo assim, o uso do preservativo é fundamental.

Nos ambulatórios e nos consultórios, os profissionais de saúde devem estar atentos ao diagnóstico correto sobre os vírus, na distinção entre dengue, zika e chicungunha. Esta última, segundo estimativas dos pesquisadores, é a que deve registrar mais casos em 2017, pois a maioria da população não tem ainda imunidade ao vírus. As dores nas articulações dos pacientes tornam a chicungunha uma doença incapacitante, que pode durar meses ou anos.

Por isso, as campanhas mostram a importância de inspeções nas nossas casas e locais de trabalho para descobrir os focos do mosquito. É preciso incentivar os vizinhos a fazerem o mesmo, ao mesmo tempo em que as doenças são tratadas e que avançam os estudos sobre elas.

Um ponto importante ligado à profilaxia da dengue é a vacina Dengvaxia contra os quatro sorotipos do vírus, que deve ser aplicada de forma subcutânea, em três tomadas com intervalos de seis meses entre os mesmos. A faixa etária que pode receber a vacina é de 9 aos 45 anos de idade.  

Além da conscientização há projetos como o que a Fiocruz coordena, introduzindo no Aedes a bactéria Wolbachia, que reduz a transmissão do vírus da dengue. Com a introdução da bactéria, os insetos são soltos e, ao se reproduzirem com os mosquitos locais, a expectativa é que os filhotes já nasçam com a Wolbachia. Hoje, o projeto atua em algumas localidades do Rio e de Niterói (RJ). É mais uma frente que se abre contra o inimigo comum. O mesmo que pode estar “dormindo” em sua casa neste momento.

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Departamento de Comunicação Faculdade Arthur Sá Earp Neto/Faculdade de Medicina de Petrópolis